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Hiperconectados: um perigo chamado FoMO!

É incontestável que a tecnologia avança à toda velocidade, e com ela milhares de informações de todos os tipos e formas chegam até nós de modo indiscriminado. 

Estamos cercados e imersos em conteúdos digitais interessantes, atrativos, alguns distrativos, outros estressantes ou falhos, logo mais à frente outros relaxantes e divertidos… em geral, os conteúdos chegam até nós sem filtro e nos deixamos levar pelo seu fluxo contínuo.

O tempo vai passando e vamos nos distraindo e nos acostumando a esse volume ininterrupto de informações, uma espécie de avalanche de imagens e dados que nos prende. Não queremos ficar de fora de absolutamente NADA.

Por meio desse grande volume de conteúdos que conseguimos alcançar facilmente, surge a vontade intensa, quase que irresistível, de checar a todo instante as redes sociais, as mensagens, os status, as fotos, as notícias, as últimas postagens.

Muitos podem alegar que esse nosso comportamento é uma das várias consequências inerentes ao avanço da tecnologia e da tão necessária e preciosa disseminação da informação. Mas será que esse “estar conectado(a) a tudo e a todos a todo instante” têm acontecido de uma maneira que pode ser considerada saudável? Afinal, não precisamos de muito para cair nessa armadilha, basta estar conectado.

Vamos começar a desvendar isso!

Essa vontade de não perder nenhuma informação ou experiência, de estar sempre conectado(a), atualizado(a) de tudo e a todo o tempo, é denominada de FoMO, uma sigla vinda da expressão em inglês “fear of missing out”, que significa algo no sentido de “medo de ficar de fora”. Andrew Przybylski e Patrick McGinnis, dois pesquisadores de Harvard e Oxford, explicam que essa necessidade ou vontade pode estar relacionada ao medo de perder oportunidades justamente por não estar conectado(a) e ativo(a) o tempo todo. Ao estar offline pode-se pressupor que as outras pessoas estão e que, por isso, possam estar vivenciando boas experiências, as quais você, por não estar conectado, não pôde vivenciá-las.

A professora de psicologia Amy Summerville, da Universidade de Miami, afirma que: “A experiência FoMO especificamente é esse sentimento de que eu pessoalmente poderia estar lá e não estava. Eu acho que parte do motivo que é realmente poderoso é essa dica de que talvez não estejamos sendo incluídos por pessoas com quem temos importantes relações sociais”.

O FoMO é real, e é uma problemática que impacta a saúde mental e está fortemente relacionada a como lidamos com a interação ou apego, em especial, às mídias sociais.

Para evitar essa sensação de “ficar de fora”, as pessoas escolhem ficar sempre conectadas para saber sobre ‘tudo’ ou para produzir informações próprias e compartilhar as novidades com a rede de contatos. Procura-se aceder às redes sociais por diferentes objetivos: estabelecer relações de amizade, networking, oportunidades de diversão e entretenimento, dentre tantos outros.

Por que devemos nos atentar a FoMo?

São tantos elementos que nos desconectam do momento presente, da ‘vida real’, das pessoas que nos cercam, trabalho, família, amigos… e esse “desligar” da ‘vida real’ pode implicar em sérios prejuízos às relações pessoais, saúde mental e qualidade de vida.

Esses prejuízos podem estar relacionados a como lidamos como a dissonância entre o que é revelado nas redes sociais, como a exemplo, as idealizações irracionais de beleza, de estilos de vida extravagantes, ostentações, momentos de extrema alegria e realizações, e o que somos e projetamos para a nossa vida.

As comparações e a maneira como consumimos que nos é exposto nas redes sociais e outras fontes de informação em meio virtual é o que pode conduzir à muitas consequências psicológicas negativas, como o aumento de sintomas de angústia social, desconforto constante, baixa autoestima, piora na qualidade de sono e descanso, insatisfação com a vida e sensações de fracasso.

Além disso, as diferentes opiniões que os outros expressam em relação ao que divulgamos sobre nós mesmos, também pode ser desencadeador de inúmeras consequências devastadoras à nossa saúde mental e nossa qualidade de vida.  

Outro aspecto que deve ser levado em consideração é a capacidade de interpretação e filtro que o usuário das redes sociais possui. Por isso, um cuidado especial deve ser direcionado a como e quanto tempo as crianças e adolescentes interagem nas redes sociais ou têm acesso às informações de outros meios de informação virtual. 

É importante termos em consideração que a conectividade ao mundo virtual não é, de todo, improdutiva. A interação com pessoas de quem gostamos, mas que estão longe fisicamente se torna mais fácil quando estamos conectados. Existem diversas formas de aprender, descobrir e buscar informações úteis nos diferentes meios ao navegar pela internet.

E então, o que devemos fazer com tudo isso?

É essencial desenvolvermos e aprimorarmos habilidades cognitivas, sociais e emocionais que possibilitem ampliar nosso discernimento sobre o que é importante e útil para que se possa direcionar a atenção e utilizar àquelas informações que, de fato, agregam e são produtivas para o aumento qualidade de vida, mesmo que sejam apenas para o entretenimento. 

É necessário avaliar e reavaliar a real necessidade de consumir muita informação a todo instante e perceber de que maneira isso afeta, efetivamente na nossa rotina.

Que tal racionalizar algumas situações e perguntar-se a si mesmo:

– para que ou de que maneira essas informações podem ser úteis?

– por que determinada informação ou opinião me afeta tanto?

– as informações são coerentes com o contexto em que vivo?

– será que preciso ficar conectado, atento e vigilante a tudo a todo instante?

– o que está acontecendo a minha volta quando eu não estou conectado?

– será que ficar de fora, desconectado, é, de fato, algo ruim?

– as oportunidades só existem no mundo virtual?

Existem várias outras perguntas que podem ser elaboradas e por vezes, não teremos a resposta ideal a todas elas.

O que pode ser afirmado nisso tudo, é que parece ser humanamente impossível dar conta de saber e participar de tudo o que acontece no mundo.

Na hora das escolhas e de perceber como todo esse emaranhado virtual afeta nossa vida e nossa saúde mental, é importante termos o apoio de nossa rede de apoio (família, amigos, professores etc.).

As crianças e adolescentes precisam ter a supervisão de seus pais e cuidadores no manuseio das interações nas redes sociais, por exemplo, e a escola precisa estar atenta em ensinar aos seus alunos como serem críticos e avaliar a pertinência das informações, inclusive as que são veiculadas na internet. É preciso conversar com as crianças e adolescentes sobre esse universo virtual, estabelecer limites e objetivos.

Além disso, a intervenção de um psicólogo, seja para promoção e prevenção ou mesmo para remediação, é de grande valia para trabalhar o processo de autoconhecimento e manejo comportamental, bem como o desenvolvimento de estratégias cognitivas e socioemocionais, no intuito de alcançar equilíbrio e se desvencilhar do prejuízo emocional e psicológico relacionado ao FoMO.

É preciso compreender os próprios limites, buscar ampliar a compreensão sobre o que é primordial e o que é dispensável, e dessa forma manter uma rotina eficiente, sem que haja interferências nos hábitos de descanso e autocuidado que uma vida saudável requer.

É válido ficar atento aos próprios hábitos e procurar ajuda profissional caso os sintomas estejam a atrapalhar e interferir nesse equilíbrio.

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