Na psicologia existem diversas teorias que explicam como o desenvolvimento humano ocorre ao longo da vida.
A exemplo, algumas dessas teorias organizam os principais processos de desenvolvimento em fases e faixas etárias. Essa distinção é elaborada para facilitar nossa compreensão sobre como nos desenvolvemos fisicamente, cognitivamente e socialmente nas diferentes etapas de nossas vidas.
Hoje decidimos abordar alguns aspectos importantes sobre o desenvolvimento infantil e refletir sobre a importância da psicoterapia infantil, em especial quando surgem algumas dificuldades para que as diferentes fases da infância sejam vivenciadas de maneira saudável pelas crianças e na interação com seus cuidadores.
Vamos começar por alguns aspectos mais teóricos (eles sempre ajudam).
De maneira geral, nos primeiros anos de vida, em especial até os três anos, a criança é completamente dependente dos seus cuidadores (alimentação, organização do sono, necessidades fisiológicas, interação social, etc.), inclusive, é com eles que os primeiros vínculos afetivos são estabelecidos.
Nessa fase do desenvolvimento, a aprendizagem também é estabelecida mediante o relacionamento direto de interação cuidador-criança. Muitas vezes, é por meio da imitação dos movimentos e ações de seus cuidadores e de pessoas próximas que as crianças dão início a compreensão dos diferentes processos de aquisição de linguagem (corporal, falada, etc.). Ao imitarem as expressões faciais e emocionais, os gestos, as palavras, os comportamentos, os sinais e uso de símbolos, as crianças desenvolvem a capacidade de resolver seus problemas (como por exemplo, pedir água ou dizer que estão com sono). E, lentamente, as crianças começam a apresentar alguma autonomia.
A partir do três as crianças ainda percebem mais a si mesmas, mas aos poucos começam a compreender a presença dos outros. É nessa fase que o uso da linguagem começa a ser mais evidente e os sinais de que elas estão a aprender tudo muito “rápido” costumam causar surpresa em seus cuidadores.
As crianças passam a apresentar iniciativas em descobrir as coisas de maneira mais independente, e expressam com um pouco mais de clareza o que sentem, em especial, com o uso das emoções ditas primárias (alegria, tristeza, raiva etc.). A imaginação e o brincar são formas de comunicação e interação com o mundo externo e apesar de a família ainda ser o foco da vida social, o interesse por outras crianças começa a ganhar importância.
A partir dos seis anos fica mais evidente o pensamento mais concreto e lógico, as habilidades de memória e o uso dos diferentes tipos de linguagem aumentam bruscamente. A expressão das emoções e dos pensamentos são utilizadas para a relação com os outros e o convívio social já não é mais restrito á família. A interação e aprendizagem formal na escola permitem as crianças um ganho cognitivo e social consideráveis. A percepção sobre si mesmo se torna mais complexa impactando na autoestima, seja de maneira mais positiva, ou de maneira menos positiva.
Outros eventos que caracterizam o desenvolvimento infantil ocorrem a medida que crescem até dar início as distintas fases da adolescência e da vida adulta.
Apesar da distinção focada em faixas etárias, as diferentes fases do desenvolvimento infantil acontecem de maneira simultânea e não estanque, não se pode atribuir a fases descritas como uma regra. Ao descrever essas fases, tentamos demostrar que é comum que algumas delas possuam características mais determinantes em alguns momentos quando comparados com outros.
O importante nisso tudo é a percepção do que e como as diferentes transformações ocorrem durante o crescimento da criança e de que maneira os cuidadores e demais pessoas da rede de apoio (avós, irmãos mais velhos, tios, professores, etc.), podem auxiliá-las para que elas possam ter um desenvolvimento físico, psicológico e social saudável.
E é nesse sentido que trazemos para a discussão a Psicoterapia Infantil!
Abordar o tema ‘Psicoterapia infantil’, não implica apontar as falhas ou fraquezas dos cuidadores. Muito pelo contrário! O que se evidencia é a capacidade de os cuidadores estarem atentos ao que acontece com a criança e perceberem de que maneira podem auxiliá-las para que consigam usufruir de uma vida amplamente mais saudável.
O desenvolvimento infantil é complexo, dinâmico e desafiante, tanto para a própria criança quanto para os cuidadores. Nesse sentido, a psicoterapia infantil surge como uma possibilidade de auxiliar às crianças no desenvolvimento e aprimoramento de habilidades cognitivas e socioemocionais para se tornarem capazes de descobrir novas formas de aprender e de criar estratégias para solucionar seus problemas e lidar com os desafios diários.
A psicoterapia na infância deve ser encarada como uma oportunidade para:
– desenvolver estratégias para a prevenção e promoção do bem-estar psicológico;
– identificar dificuldades e aprimorar formas de interação social;
– identificar as dificuldades de aprendizagem e desenvolver as habilidades para resolução de problemas;
– desenvolver habilidades cognitivas, sociais e emocionais;
– desenvolver as capacidades de regulação emocional e expressão de emoções;
– potencializar pensamentos e emoções que são funcionais e ajudam;
– desenvolver estratégias para lidar com medos, insegurança ou baixa autoestima;
– propor planos de trabalhos psicoterápicos adequados em casos de transtornos de ansiedade infantil, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtornos alimentares, de sono, obsessões e manias, ou fobias etc.
Vale destacar que a psicoterapia infantil tem funções específicas e é bastante distinta se comparada com a psicoterapia com adolescentes ou adultos.
As crianças possuem habilidades, preferências e interesses próprios. Possuem desafios e problemas que precisam ser levados em consideração. Nesse sentido, é essencial adaptar o nível de intervenção à idade e às capacidades de desenvolvimento dessa faixa etária. Além disso, para o processo psicoterápico são considerados alguns aspectos:
– a idade das crianças é cuidadosamente considerada. Esse aspecto impacta em como as informações são obtidas e as intervenção são programadas e efetivadas.
– a atenção é direcionada as habilidades sociocognitivas a fim de desenvolvê-las.
– crianças menores tendem a beneficiar-se de técnicas cognitivas simples como autoinstrução e intervenções comportamentais que envolvem estimulação, aprendizagem e interação lúdica.
Outro aspecto importante a ser ponderado é que a experiência com a psicologia clínica ou educacional na infância é oportunizada pela rede de apoio (pais, cuidadores, professores), em especial quando são perceptíveis dificuldades psicológicas e de aprendizagem que criam problemas para algum sistema (família, escola, relações sociais).
Cabe aos cuidadores e demais pessoas da rede de apoio a responsabilidade de oportunizar as crianças um espaço que privilegie ainda mais o desenvolvimento de estratégias para a prevenção e promoção bem-estar físico e psicológico.