Os cuidados com a casa, a correria com o trabalho, a educação dos filhos, jantar com os amigos e, quem sabe, praticar uma atividade física ou fazer um novo curso, ir ao barbeiro…
De maneira quase que automática, nossa rotina é imersa em inúmeras atividades, algumas nos soam mais como uma ‘obrigação’, outras são ‘ok’ e tantas outras são motivadas e efetivadas pelos nossos desejos e vontades.
E até aí, nada fora do esperado.
Mas, um dos “senhores” que pode se tornar nosso melhor amigo ou nosso pior inimigo é ‘quem’, em primeiro momento dita o ritmo de nossa rotina. Ele, o tempo (o tic tac do relógio ou o movimento do sol e a claridade do dia), é quem, no final das contas, nos alerta do quanto conseguimos ou não ser produtivos e se conseguimos terminar o dia com o checklist de nossas atividades em grande e devidamente assinalado em verde.
E é aqui que entramos em um aspecto bem importante.
O tempo não deve ser encarado como o detentor do controle da nossa rotina. Temos que ter em conta que somos nós os responsáveis por ‘controlar’ o tempo e precisamos desenvolver estratégias que nos beneficiam e nos façam ter um dia produtivo e, acima de tudo, saudável.
Já não é segredo e muito se discute sobre a importância da organização em nossas vidas. Claro que ela não é a única estratégia, mas a organização pode ser considerada uma de nossas aliadas mais efetivas e poderosas para que consigamos usufruir de um dia com maior fluidez e produtividade.
Podemos elaborar listas mentais, organizar listas das atividades na agenda do telemóvel ou grudá-las em post-its na porta da geladeira. Muitas vezes essas táticas funcionam bem, outras vezes, nem tanto.
E nem estamos nos referindo aos imprevistos que muitas vezes justificam uma rotina mais fora do programado.
Muitas vezes o que atrapalha a fluidez de nosso dia não é a falta de tempo ou a falta de organização das nossas atividades.
Tem algo que ocorre e que às vezes nem sabemos definir. Pode ser preguiça, desmotivação ou desânimo.
Mas podem ser também padrões de comportamentos e pensamentos que nos levam a procrastinar.
Isso mesmo, procrastinar!
A procrastinação é a tendência de atrasar excessivamente o início e ou conclusão das atividades além do cronograma ou tempo esperado ou programado para a sua execução.
É normalmente associado a um sofrimento psicológico, mas, que, quando acontece, gera um conforto temporário diante da possibilidade de evitar a tarefa que é indesejada ou incômoda.
Por isso, não fique frustrado(a), pode demorar um pouco mais do que gostaríamos para modificarmos os padrões de comportamento vinculados à procrastinação, já que esta, por sua vez, nos fornece esse conforto temporário.
Contudo, por ser caracterizada por atrasos desnecessários e irracionais, a procrastinação a médio e longo prazo vem acompanhada de desconforto psicológico e emoções negativas, como culpa, frustração, tristeza e insatisfação.
Razões para que a procrastinação apareça? Várias.
Alguns estudos[1] indicam que a baixa autoestima, a indecisão, a ansiedade e a depressão estão associadas com a procrastinação. Ou seja, procrastinar não implica somente em falta de motivação ou “preguiça”.
Além disso, a procrastinação pode estar relacionada a medos irracionais de fracasso centrados na autocrítica negativa e na insegurança sobre as habilidades que possuímos para executar determinada tarefa, seja esta complexa ou não. Em outras palavras, o medo do fracasso ou ainda o perfeccionismo, podem fazer com que, no momento de tomar uma decisão ou realizar alguma tarefa, escolhamos a estratégia de procrastinar com a intenção de resolver determinado problema, mesmo que momentaneamente.
Existem ainda fatores como a aversividade da tarefa, a baixa autoeficácia, a impulsividade, a falta de organização e de foco que podem potencializar a procrastinação.
A procrastinação também pode ser um sinal valioso para nos indicar de que, talvez, não estejamos a ser realistas quanto à organização de nossas atividades diárias, ou ainda, que precisamos refletir com mais cuidado sobre as decisões e escolhas que precisamos fazer.
Independentemente do motivo pelo qual estamos a procrastinar, não devemos, em hipótese alguma, subestimar esse estado, em especial quando ele se torna recorrente e impacta de maneira significativa a nossa vida diária.
O que precisa ser feito afinal?
A ideia é prestarmos atenção em nossas crenças, nossos pensamentos e em nossos padrões comportamentais e identificar como estes se relacionam com a atividade que estamos ou pretendemos executar ou à decisão que precisamos tomar. E perceber porque escolhemos a estratégia de procrastinar.
Uma autoavaliação pode ser bastante útil, exemplo:
– “Eu acredito que sou capaz de atingir os objetivos ou tomar as decisões programas ou que me são direcionadas?” (Essa resposta precisa ser mais elaborada do que “sim” ou “não”, heim?!)
– “Como essa atividade/decisão impacta na rotina ou na minha vida?”
– “O que pode acontecer ou quais são as consequências caso eu não coloque em prática determinada atividade que programei?”
Além disso, é essencial levarmos em consideração o tempo e as condições que temos para, efetivamente, executar cada atividade que nos propomos durante o dia. Pergunte-se:
– “As condições para que determinada atividade seja executada são apropriadas?”
– “Tenho tempo suficiente? O que preciso fazer antes ou depois de cada atividade?”
Temos que ficar atentos, perceber de que maneira organizamos o nosso tempo e se, de fato, somos procrastinadores.
Claro que há dias em que não estamos 100% dispostos e sim, a preguiça pode ser uma boa estratégia para nos permitir o descanso. Mas, devemos identificar nossos padrões de comportamentos e avaliar nossas crenças sobre a maneira como lidamos com nossa rotina para perceber se a nossa procrastinação não está a afetar de maneira negativa a nossa qualidade de vida e nossa saúde mental e até mesmo, física.
[1] Steel, P. & and Klingsieck, K. B. (2016). Academic procrastination: Psychological antecedents revisited. Australian Psychologist 51 (2016) 36–46. Recuperado de https://aps.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/ap.12173
