Você já se perguntou? Por que parece que estou constantemente cansado?
A resposta pode até ser bastante simples, é só analisarmos nossa rotina.
Podemos listar inúmeros motivos que nos deixam cansados: os afazeres domésticos, um dia pesado no trabalho, a brincadeira e os cuidados com as crianças, os estudos, uma noite mal dormida, até mesmo um longo dia de diversão na praia.
Mas, além desses e de tantos outros, um dos motivos que podem nos deixar extremamente cansados nem sempre nos é assim, tão evidente.
Quer saber qual?
Pensar muito.
Sim, o pensamento constante em algo ou alguma situação pode nos deixar tão ou mais cansados do que lidar com um dia atribulado de nossa rotina.
Mas, vamos com calma.
O ato de pensar sobre as coisas é primordial. Inclusive essa é uma das principais características que nos diferencia de outros animais: nós, seres humanos, somos seres essencialmente pensantes.
Perceber sobre como e o que pensamentos sobre nós mesmo, nossas relações, sobre as situações e coisas em geral é essencial para o nosso desenvolvimento interpessoal, social e de aprendizagem.
Refletir sobre os nossos próprios pensamentos e compreender sobre como os organizamos é fundamental para que consigamos interromper padrões de comportamentos e emoções que nos são indesejados e que nos atrapalham. Também nos ajuda a reforçar, estimular e manter os pensamentos que nos ajudam a ter uma vida mais saudável, e no geral, mais feliz.
Mas… tem sempre um ‘mas’…
Pensar muito pode nos fazer entrar em um ciclo excessivamente ácido de ruminação à medida que nosso bem-estar mental diminui.
Isso mesmo, ruminação!
A ruminação pode ser caracterizada como pensamentos constantes e repetitivos sobre sintomas, sentimentos, problemas, eventos perturbadores e aspectos negativos pessoais, com foco nas causas, significados e implicações que rodeiam esses sentimentos.
E é nesse sentido que pensar demais pode virar um dos nossos problemas mais perturbadores. Pensar de maneira excessiva, ou seja, ruminar sobre as coisas, inclusive, pode estar associado a problemas de saúde psicológica.
Pensar demais é um hábito mental (ou comportamental) que pode nos levar a focar em nossos fracassos e fraquezas e aumentar o risco de ansiedade, depressão e potencializar medos. Implica inclusive em perturbações no sono já que o cérebro parece não desligar.
Embora todos nós costumemos pensar com maior frequência nas consequências ou resoluções de determinados problemas, os pensadores excessivos perdem grande parte de suas horas de vigília ruminando, colocando pressão sobre si mesmos.
Quando nos concentramos em um “ruminar” constantemente, criamos uma rotina traiçoeira. A ruminação se transforma num ciclo, então quanto mais o fazemos, mais difícil se torna para nós, evitá-lo. Pensar demais é prejudicial e fisicamente exaustivo. Pode colocar em risco a nossa saúde física, mental e a nossa segurança geral.
É como se gastássemos mais energia na programação das etapas de nossas atividades diárias, do que de fato, na execução delas. E é isso que pode nos deixar tão cansados.
Mas espere lá, então significa que não devemos pensar?
A questão em tudo isso não é o ‘não pensar’, mas sim, a maneira como percebemos, organizamos e usamos nossos pensamentos para nos manter capazes de realizar tarefas, resolver nossos problemas e sermos saudáveis.
SIM, continuemos a pensar, mas temos que assumir uma postura prioritariamente flexível e racional sobre o que nos cerca, sobre os eventos diários e sobre como lidamos e pensamos sobre eles.
Temos que organizar nossos pensamentos, racionalizar os que nos geram mais sofrimento e preservar e estimular os pensamentos que nos geram alegrias e nos mantêm saudáveis.
Temos que pensar, mas para além disso, ativar nossos comportamentos e transformá-los em ações.
Temos que assumir que nem sempre vamos dar conta de tudo. Nossa organização diária pode ser bastante benéfica nesse sentido.
Temos que assumir que não existe a perfeição, que o ideal é relativo.
Temos que propor aos nossos problemas soluções flexíveis.
Temos que estar dispostos a compreender que o controle sobre tudo não nos é possível e por isso, temos que priorizar pensamentos e comportamentos que nos possibilitem reavaliar e repensar sobre as consequências das nossas ações.
No geral, temos que pensar e avaliar alternativas para a resolução de nossos problemas, mas, isso não pode ser confundido com “ruminar sobre o problema”.
Esse processo de ruminação não reduz o grau de desconforto em relação a eles. Além de nos deixar mais cansados, quando ruminamos tendemos a manter ou intensificar os efeitos negativos que o determinado problema pode nos causar, quer a nível psicológico, quer a nível fisiológico.
E o que fazer com a ruminação, com todos esses pensamentos?
Apesar de não ser um processo assim, tão simples, pelo menos não inicialmente, nos distanciar do problema tende a provocar efeitos bastante benéficos, positivos e produtivos.
‘Distanciar-se do problema’ não deve ser confundido com ‘abandonar o problema’.
O distanciamento amplifica a assimilação de experiência problemática e permite que ela seja revivida sob perspectivas diferenciadas daquela intensificada durante o processo de ruminação.
Movimentos simples, os quais nem sempre nos damos conta, podem nos ajudar a manter um distanciamento da experiência problemática.
Que tal?
Ouvir uma música, conversar com alguém sobre assuntos mais amenos para distrair, caminhar, correr, fazer alguma atividade física, assistir um filme… ou seja, boa parte de nossos problemas podem começar a ter uma reavaliação e possíveis soluções quando nos distraímos dele.
O que precisa ser evidenciada é a necessidade de quebrar o fluxo do pensamento ruminativo com outra atividade. Quando conseguimos fazer isso, e voltamos, mais tarde, ao problema, é comum aquela sensação de que ele não era tão ruim assim, ou tão complexo, e que de fato, podemos ter estratégias e opções para solucioná-lo. Isso porque conseguimos atribuir novos significados a um mesmo problema.
Aliás, a solução pode estar e conversar com outras pessoas.
Aceder nossa rede de apoio pode ser uma excelente opção para que, de forma conjunta e com acolhimento mútuo, consigamos discutir as estratégias mais adequadas e ações sejam efetivadas para a resolução do problema.
Mas uma vez, é importante reforçar que a psicologia dispõe de muitas estratégias, sejam com viés cognitivo ou comportamental, para nos ajudar a perceber de que maneira pensamos e organizamos nossos próprios pensamentos e compreender como eles afetam a nossa vida.
Com isso, a psicologia pode nos auxiliar na redefinição de padrões comportamentais e alterações de crenças e emoções indesejadas e que nos geram sofrimento. Da mesma forma, pode nos auxiliar a preservar, intensificar, estimular e manter os pensamentos que nos fazem felizes diariamente e nos mantêm metal e fisicamente saudáveis.
Não deixe de conversar com seu psicólogo sobre isso.