Somos seres sociais, aqueles que vivem e se relacionam em comunidade (por mais que, de certa forma, as atuais contingências nos restrinjam). Temos a capacidade de aprender e nos adaptar ao contexto ambiental em que estamos inseridos e, para isso, lançamos mão de inúmeros recursos para comunicar nossas necessidades e sentimentos, bem como para descrever, compreender e interagir com as pessoas que nos cercam.
Palavras (faladas ou escritas), gestos, sinais, formas de olhar, formas de falar, expressões faciais, entonação de voz, todas essas ações fazem parte do ‘mundo (complexo) da comunicação.
O objetivo da comunicação é transmitir mensagens, mas, para que essa comunicação seja estabelecida de maneira efetiva, essas mensagens precisam ser compreendidas adequadamente por outra pessoa. Ou seja, a comunicação só pode ser considerada como efetiva, quando existir uma relação.
Comunicar sempre foi primordial para nossa sobrevivência e adaptação ao mundo social. E para viver bem em comunidade é imprescindível que consigamos desenvolver uma boa comunicação com todas as pessoas de convívio, seja para esclarecer situações, evitar ou lidar com conflitos, demonstrar sentimentos, ter acesso a informações, aprender, ensinar… tem muita coisa envolvida nesse tema.
Um dos principais pontos é compreender que existem muitas formas de transmitir (ou recepcionar) uma mesma informação e de lidar com uma mesma situação. Cabe a nós conhecermos e utilizarmos a forma mais adequada para cada pessoa e situação.
Convidamos você a conhecer alguns diferentes estilos de comunicação e refletir sobre sua própria forma de se comunicar com as pessoas presentes em sua vida. Que tal pensarmos um pouco sobre isso e avaliarmos se está tudo indo bem?
Então, vamos lá…
Comunicação Agressiva
Baseia-se principalmente na imposição do próprio ponto de vista e dominação da situação. Caracteriza-se por ter o foco nos próprios objetivos e por não valorizar os interesses e os sentimentos do outro.
É comum o uso de um tom de voz elevado, chantagens, entonações de ironia, interrupções da fala do outro ou o uso de perguntas antes mesmo de o outro terminar de falar ou expressar as opiniões próprias como se fossem as melhores e com um desmerecimento evidente da opinião alheia. É nítida uma supervalorização das próprias necessidades e desejos em detrimento das dos outros. Não há espaço para negociação e há pouquíssima flexibilidade. Por crer em uma suposta superioridade, a pessoa tende a não confiar e não contar com ninguém.
É sempre desagradável conversar (ou tentar manter diálogo) com alguém que se comunica agressivamente, pois podem ser perceptíveis a hostilidade e a falta de empatia. Contudo, quando qualquer coisa é imposta, não gera satisfação e não há espaço para colaboração espontânea.
A pessoa que se comunica de modo agressivo alcança seus objetivos?
SIM, e justamente por obter quase sempre aquilo que deseja e por reduzir a tensão sentida ao conseguir, que a comunicação agressiva se mantém.
Favorece o relacionamento social?
NÃO! As pessoas que interagem como quem se comunica agressivamente geralmente ficam tristes, magoadas e evitam contato futuro, pois as relações e a confiança ficam enfraquecidas.
Comunicação Passiva
Acaba sendo o exemplo oposto (e ao extremo) da comunicação agressiva, pois esse tipo de comunicação busca agradar os outros ao máximo possível.
A pessoa tende a desvalorizar os próprios interesses e opiniões para não chatear ou ferir os sentimentos de alguém. Se expressa de forma quase sempre indireta, implícita, fala pouco, geralmente em tom baixo para não chamar atenção e apresenta pouco ou quase nenhum contato visual. Há uma tendência a permitir que o outro domine a comunicação, a não expressar o que pensa realmente e sim a falar apenas o que entende que o outro gostaria de ouvir.
As pessoas que se comportam dessa maneira, possivelmente já passaram por situações de constrangimento ou receberam críticas ao se exporem em determinadas situações, então demonstram medo elevado de críticas, julgamentos e punições, portanto, evitam revelar o que pensam, não confrontam, evitam conflitos e quase nunca dizem “não”. Ao evitar qualquer conflito, a pessoa sente grande alívio da tensão, e por isso acaba mantendo as respostas de evitação.
A pessoa que se comunica de modo passivo alcança seus objetivos?
TALVEZ. Por essa falta de expressão própria, raramente alcançam seus objetivos, não sabem o que querem ou não se expressam adequadamente, não lutam por seus direitos, refletem uma autoestima frágil e sentimento constante e elevado de ansiedade.
Favorecem o relacionamento social?
SIM (e não). Tendem a serem queridos por todos, por serem pessoas de fácil convívio, mas podem não ter o respeito ou valor apropriados.
Comunicação Passiva-Agressiva (manipuladora)
Na dúvida entre valorizar seus sentimentos e os dos outros, a pessoa com uma comunicação passiva-agressiva tende a agir de modo contraditório e incoerente.
A pessoa utiliza diferentes discursos a depender da pessoa a quem se dirige. Pode ceder à expectativa alheia, mas reclama, chora ou age de forma agressiva (fala alto, “joga na cara” ou é sarcástica) – isso pode acontecer imediatamente ou, às vezes, muito tempo depois do ocorrido. Não demonstra clareza e não costuma ser direta nas interações, pois a pessoa não diz o que quer, por vezes, para não confrontar quem possivelmente não concorda com a sua opinião, contudo, por outro lado, utiliza manipulações estratégicas e artifícios por muitas vezes difíceis e desnecessários para alcançar os objetivos. Por esta falta de clareza e coerência nas atitudes, essas pessoas tendem a não conquistar credibilidade porque não favorecem relações de confiança recíproca.
Alcançam seus objetivos?
Geralmente NÃO! Acatam o desejo dos outros, mas reclamam sempre e muitas vezes não se empenham no acordo feito, e quase sempre têm suas opiniões deixadas de lado.
Favorece o relacionamento social?
NÃO, pois, apesar de o receptor ficar satisfeito, a relação é abalada em função das atitudes incoerentes de quem comunica.
Comunicação Assertiva
Esse estilo de comunicação é o que mais se deve buscar exercer, pois ao ser assertivos, demonstra-se importância tanto com os sentimentos dos outros quanto com os seus próprios.
Envolve a capacidade de se colocar no lugar do outro – a tão famosa e desejada empatia, ao considerar os diferentes pontos de vista e opiniões. Não significa que se deva aceitar e concordar com tudo, mas sim, saber considerar e respeitar pensamentos divergentes dos próprios.
Agir de maneira assertiva é saber selecionar adequadamente quando, onde, o que e como falar de modo a favorecer a compreensão e recepção da informação (verbal ou não verbal). Com a comunicação assertiva, conseguimos expressar em palavras e gestos o que realmente pensamos, sentimos e queremos, dando espaço ao outro de se expor de forma semelhante. Assume-se responsabilidades nas interações ao defender seus direitos sem violar os dos outros, o que propicia um diálogo honesto, seguro e cooperativo entre as partes.
Alcança seus objetivos?
SIM! Mesmo quando se abre mão de algo durante a comunicação. A pessoa assertiva se faz ouvir e é levada em consideração, afirma seu posicionamento sem desrespeitar ou invalidar o do outro.
Favorece o relacionamento social?
SIM! A pessoa com esse tipo de comunicação tende a respeitar o outro e se faz respeitar, favorece a relações de confiança e credibilidade.
*** *** ***
De todas as formas que temos para nos comunicar, não o fazemos de maneira única, fixa e imutável. Às vezes transitamos entre os diferentes estilos, cometemos erros e acertos, mas, o importante é buscarmos a consciência de nossas falhas e escolher fazer o mais adequado, tanto quanto for possível. E, a depender da situação, devemos avaliar com cuidado qual o padrão mais apropriado de comunicação temos de optar.
Existem situações que requerem uma comunicação com características mais agressiva, por exemplo, quando temos algo urgente ou emergencial, questões de vida ou morte, quando existe perigo, risco, violação de direitos básicos, uma postura mais forte e impositiva se justifica ou se faz pertinente, pois o resultado é o mais importante naquele momento.
Entretanto, quando alguma coisa é insignificante para você, mas, é muito importante para o outro, talvez valha a pena ter uma atitude com certa passividade e ceder, abrindo mão em favor da necessidade dessa outra pessoa.
Devemos sempre procurar ser os mais assertivos possível na maioria das situações da vida, pois o nosso querer é tão importante quanto nossas relações sociais. Um ponto muito importante a ser ressaltado é que devemos evitar ao máximo agir de maneira passivo-agressiva ou manipuladora, pois qualquer efeito que possa parecer positivo, é puramente ilusório, não é coerente ou consistente com a realidade.
À medida que ampliamos o conhecimento acerca de nosso próprio comportamento, e da maneira como pensamos sobre eles, melhoramos as possibilidades de êxito nas comunicações e relações sociais. Por este motivo é tão importante criar o hábito de exercitar a auto-observação, a reflexão sobre nossos padrões, nossas crenças e análises das possibilidades de mudanças em direção ao aprimoramento pessoal.
Como consigo identificar meu estilo de comunicação?
Listamos algumas características que podem ajudá-lo a compreender e avaliar melhor o seu estilo predominante de comunicação:
Estilo agressivo:
– na maior parte das vezes tomo a frente e decidido as situações sozinho, sem me importar com a posição ou opinião do outro;
– costumam me criticar por sempre discordar de tudo que é proposto;
– tenho dificuldade em ouvir e considerar a opinião dos outros;
– interrompo e corto a palavra ou fala dos outros frequentemente, às vezes sem perceber que o faço;
– sinto que intimidar e constranger os outros pode ser um meio necessário para atingir meus objetivos;
– quando me sinto enganado ou prejudicado de alguma forma, sinto necessidade de “dar o troco”;
– tenho tendência em falar mais do que os outros e dificuldade em controlar o tempo quando falo;
– por vezes choco, aborreço ou assusto as pessoas com as minhas atitudes;
– prefiro fazer as coisas sozinho, pois duvido sempre da capacidade dos outros de fazerem algo tão bom ou melhor quanto eu;
– prefiro ser “assustador” a ser considerado “bobo e inofensivo”.
Estilo passivo:
– digo muitas vezes “sim”, quando na realidade gostaria de ter dito “não”;
– quando há debate ou discussão, prefiro ficar quieto e observar o que acontece sem tomar uma posição;
– me esforço para ser discreto e passar despercebido em quase todas as situações;
– evito pedir ajuda, pois podem duvidar da minha capacidade;
– sinto muita dificuldade quando tenho de fazer alguma coisa pouco habitual;
– tenho tendência a deixar para mais tarde as coisas que tenho de fazer;
– deixo de completar minhas tarefas e atividades com frequência;
– não gosto de incomodar os outros;
– tenho dificuldade em tomar decisões sozinho;
– sinto-me desconfortável quando sou a única pessoa dentro de um grupo a pensar de determinada maneira;
– às vezes sinto que as pessoas me exploram;
– prefiro ficar quieto e observar do que participar e me expor;
– prefiro estar na retaguarda e nos bastidores do que na linha de frente.
Estilo passivo-agressivo (manipulador):
– quando não conheço bem uma pessoa, prefiro dissimular aquilo que penso ou sinto;
– para mim é mais fácil atuar por meio de outra pessoa do que diretamente;
– consideram-me, no geral, “manhoso” e hábil nas relações com os outros;
– dou sempre um jeitinho para conseguir aquilo que quero, mesmo que isso implique em não respeitar, de todo, o espaço ou tempo do outro;
– sempre que posso, tiro proveito das coisas que me convém e me sinto esperto por isso;
– criar conflitos pode ser mais eficaz do que reduzir tensões;
– tenho habilidades de convencer as pessoas a fazer o que quero e aceitarem as minhas ideias;
– utilizo a ironia a meu favor;
– o elogio, mesmo que não seja sincero, é uma boa forma de obtermos êxito com as pessoas.
Estilo assertivo:
– consigo defender os meus direitos sem violar os direitos dos outros;
– não receio criticar os outros e dizer-lhes aquilo que penso, mas ajo com de maneira cuidadosa;
– não tenho receio de recusar certas tarefas que julgo não serem pertinentes;
– manifesto a minha opinião, mesmo perante pessoas mais hostis;
– prefiro manter as relações baseadas em confiança;
– sinto-me confortável nas interações diretas;
– procuro atingir os meus objetivos sem desrespeitar os outros;
– em caso de divergências de pontos de vista, procuro chegar a um consenso entre os interesses de ambas as partes;
– exponho os assuntos de forma clara e objetiva;
– geralmente sou verdadeiro e mostro aquilo que sou;
– quando não estou de acordo sou capaz de me expressar;
– sei ouvir e não interrompo quando os outros estão a falar;
– geralmente consigo levar até ao fim aquilo que decidi fazer;
– expresso os meus sentimentos de maneira clara;
– sei protestar ou realizar críticas com eficácia e sem ser agressivo.
*** *** ***
É essencial termos em consideração que, apesar da possibilidade de termos um estilo de comunicação mais predominante, muitas das características das diferentes formas de comunicação são utilizadas de maneira interativa para que possamos nos adaptar ao contexto em que estamos inseridos.
Contudo, muitas vezes, temos que estar atentos quando não conseguimos comunicar de maneira saudável e eficiente e essa falta de habilidade atrapalha as nossas relações diárias. Acionar nossa rede de apoio, buscar o autoconhecimento e aprimorar habilidades socioemocionais para uma melhor comunicação, é uma excelente opção para sermos socialmente mais capazes e felizes.
A psicologia tem muito para contribuir para isso, por isso, não deixe de buscar auxílio com um psicólogo.